4.20.2009

Sobre o novo acordo ortográfico

No final de 2008, foi assinada pelo presidente Lula a lei que põe em vigor, a partir de 2009, o novo acordo ortográfico da língua portuguesa. Este acordo prevê simples mudanças ortográficas que, na maioria dos casos, não interferem no significado das palavras, e sim na forma como elas serão escritas. Os chamados países lusófonos têm 4 anos para se adequarem completamente ao acordo, mas por enquanto muita polêmica tem se criado em torno das poucas mudanças sancionadas.

O novo acordo ortográfico tem um caráter normativo e visa à padronização do sistema ortográfico, e não a sua simplificação. A eliminação do uso de acentos, hífens e sinais diacríticos alteram uma pequena quantidade de palavras (+ ou – 0,5 delas) que precisam ser decoradas pelo usuário da língua se este quiser se adequar ao acordo. Para aqueles que não querem decorar listas de palavras, resta adquirir um razoável conhecimento da estrutura gramatical das mesmas para que, desse modo, possa aplicar as regras previstas no acordo.

A grande preocupação, no entanto, é com o caráter maniqueísta adotado pelas provas de concurso público, pela mídia e pela escola brasileira, que costumam dividir o mundo entre as forças do “bem” e as do “mal”. Isso pode levar essas instituições, sobretudo as provas de concurso, a aplicarem testes que condenem as formas antigas e queiram extrair do indivíduo testado um completo conhecimento das mudanças ainda em via de implementação, prejudicando aqueles que ainda não assimilaram as ínfimas mudanças ortográficas do novo acordo.

Espera-se que, com o tempo e com um pouco de bom senso daqueles que ensinam e veiculam a escrita do português brasileiro tanto nas escolas quanto na mídia, esse acordo se consolide da melhor maneira possível.

Um dos poucos pontos em que o acordo simplifica a ortografia é o que se refere ao trema, completamente eliminado nas palavras do português. Quanto ao hífen, parece que as regras tornaram a escrita mais complicada. Um acordo que almejasse a simplificação da escrita, obviamente, eliminaria todos os hífens, o que não tornaria palavras compostas -- seja por aglutinação ou justaposição -- menos compreensíveis. Assim, teríamos palavras como "super rápido", "ex presidente", "contra argumento", "luso brasileiro", "bem te vi", "guarda noturno" etc separadas, mas sem o hífen. Ou então, o que talvez seja um pouco radical (embora não menos pertinente e em consonância com uma escrita mais fonética), teríamos esses mesmos compostos justapostos ou aglutinados: "superrápido", "expresidente", "contrargumento", "lusobrasileiro", "benteví", "guardanoturno". Algo parecido com o processo de composição que ocorre no Alemão e em outras línguas anglo-saxônicas, em que vários morfemas se juntam para formarem novas palavras.

Mas no novo acordo ortográfico, em geral, as mudanças que envolvem o hífen estão relacionadas com palavras compostas por prefixo + radical, onde o hífen deixa de existir (extrassensível, contrarregra...).

As palavras compostas por dois radicais continuam com hífen (Amor-perfeito, curto-circuito...).

Com os acentos agudo e circunflexo ocorre algo parecido: o agudo cai em ditongos ei e oi de paroxítonas (ideia, paranoia), mas continua em todas as outras paroxítonas. O agudo também cai em pares homógrafos (para ‘prep.’ / para ‘verbo’; pelo ‘prep.’ / pelo ‘subst.’).O circunflexo cai em verbos na terceira pessoa do plural com vogais geminadas (veem 'ver'), mas continua na terceira pessoa do plural com vogal simples (vêm 'vir'). O circunflexo também cai em nomes com vogais geminadas (voo, enjoo).